segunda-feira, 5 de março de 2018

7 meses de minimalismo


   Foi no dia 02 de agosto de 2017 que sentado no chão depois de um tombo ao tropeçar em um dos inúmeros calçados que eu nunca havia usado, e não sabia ao certo o porquê de possuir algo daquele tipo, visto que eu nunca usaria, olhei em volta daquele cômodo  4x4 dedicado especialmente pra isso, abarrotado de coisas, roupas, calçados, penduricalhos, uns troço que eu nem sabia o que era, que dirá porque tinha comprado, foi ai que eu comecei a pegar item por item daquele monte de nada e fazer as perguntas, “por que eu tenho isso?”, “quando eu comprei isso?”, “isso é útil pra mim porque?”. E quase que de forma unanime as respostas foram, “não sei!”, “não sei!”, “não!”. E fui ler sobre uma coisa absurda chamada minimalismo. E foi ai que comecei o processo, eu disse eu sou um acumulador e comprador compulsivo, vamos resolver isso, item por item foi saindo, pilhas de roupas, calçados, depois partindo para moveis e eletros inúteis ou sem uso apropriado pra mim, e aos poucos a casa que antes parecia pequena, foi se tornando acolhedora e arejada, e olhar pra cada parte dela que não tinha mais algum tipo de quinquilharia me dava uma paz inexplicável.

  Saber exatamente o que eu possuía me deixava tranquilo, abrir o guarda-roupa e poder visualizar tudo que eu tinha, e saber que apenas 8 camisetas era o suficiente, me deixava num estado que não sabia o nome, só sabia que era muito bom e que iria continuar.

   E assim os meses formam passando estendi a analise minimalista para outros setores, meu círculo de amizades diminuiu, ficaram aqueles poucos e bons, você entende não é mesmo? Vi minhas redes sociais não fazerem mais tanto sentido, exclui tudo dei um prazo de 15 dias pra ver como me comportava e ai surpresa, foram-se meus ataques de ansiedade, o cara frenético que falava um milhão de palavras por minuto tinha uma calma que parecia muito estranha pra ele mesmo, leu o dobro de livros (em versões digitais, porque não ocupa espaço e meus livros foram todos doados) não falava mais tão alto, e pensava em tantas coisas legais, eram tantas reflexões.

   Vendi algumas coisas e fiz uma graninha até legal, roupas, calçados e livros seguiram direto pra doação, e mano que sentimento maravilhoso, porque enquanto a gente acumula um monte de coisas que não precisa gastando um dinheirão desnecessário, orfanatos e asilos precisam de bem menos que isso, foi embora não só o peso daquele monte de coisa ocupando espaço na minha casa, mas o que me fazia sentir sobrecarregado inconscientemente e saber que eu poderia fazer um bem enorme para alguém enquanto estava me curando, foi o momento mais tocante do processo, eu vi olhos gratos e felizes, que seguiu da frase em que eu dizia a mim “eu sempre fui um bosta”.

   Eu já não comprava mais, não acumulava nada, caso precisasse pensava mil vezes, no começo um esforço sobrenatural não gerar necessidades e não sucumbir a elas, preferia ir toda semana no mercado, ferinha, e sempre com um listinha feita sistematicamente em dia de preço bom, redescobri o prazer de cozinhar que eu já tinha deixado passar, comecei a me exercitar, porque já não passava mais tempo no feed do instagram vendo todo aquela propaganda subliminar, sério quer um conselho? Abandone o instagram se você quiser ser minimalista, aquela é a janela da superficialidade. E a cada mês meu saldo estava bacana, não tinha mais aquela fatura desesperadora pra pagar, e o dinheiro foi sobrando, e ai o que eu vou fazer? Viajar, eu sempre gostei de viajar, porque eu nunca viajava? Porque eu estava gastando meu dinheiro com coisas, sempre quis ir para o nordeste, de cara comprei passagem para Porto Seguro-BA, fui pra Lagoa Santa-Go, Bonito-MT, agendei outras de acordo com as folgas e férias, me conectei com a natureza, em algumas viagens fui só, mas foi o ensejo perfeito para que eu fizesse amizades em lugares diferentes, culturas diferentes, e como isso tem sido ótimo, porque quando se abandona as inutilidades dos acúmulos a gente tem  tempo pra ver o que realmente gosta, e o que realmente deseja, e o meu desejo era conhecer pessoas e lugares, sempre sonhei com isso mas nunca tinha dinheiro, apenas coisas, e coisas não me levaram a lugar algum.

  Enfim, a grande questão é que eu estava, como a grande maioria  das pessoas, doente da ilusão de que somos a imagem que passamos, que devemos ser aquilo que a mídia dita, que tem uma espécie de check list, e a gente tem que estar enquadrado naquela porra ali, se conseguir conferir tudo então perfeito, mas o que ninguém diz é que você nunca vai conseguir e se conseguir vai chegar a conclusão de que tudo foi em vão, não tem nada nessa merda desse “topo”, vai estar sempre faltando algo, é só olhar em volta as pessoas mais bem sucedidas não estão felizes, tá todo mundo mal, e nada disso pode ser resolvido em termos materiais, e o melhor lugar pra se estar é dentro de si mesmo, mas para permanecer ali, primeiro é preciso cura, a felicidade parte de dentro de nós, quando abri mão de monte de padrões que eu não alcançaria e outros nem fariam diferença, eu disse foda-se e tudo começou mudar, a cada dia eu tenho a possibilidade de melhorar e fazer algo por alguém, pelo planeta não tenho só que pensar em mim, eu tenho esse tempo eu estou disponível pra mais alguém, é tão bom não estar ansioso por coisa nenhuma, nem depressivo por não achar que minha vida não é tão perfeita, paz tudo que eu tenho hoje é paz, hoje eu sou não pessoa que eu deveria ser, ou  me tornar, ou que disseram que eu deveria ser, eu sou a pessoa que esta incrivelmente feliz consigo e satisfeito com quem tem se tornado.

   Eu desejo a você essa paz, seja sempre o seu lugar ideal para voltar.

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